Aprendendo da natureza

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Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta: A História de um Iluminado

Sri Krishna Bhagavan
Excertos dos capítulos de 7 a 9 do canto 11 do Srimad-Bhagavatam

Um grande rei da Índia antiga se encontra com uma personalidade iluminada, que lhe conta sua história de iluminação através da observação atenta de tudo ao seu redor.

Em geral, os seres humanos que conseguem analisar com perícia a verdadeira situação do mundo material são capazes de se elevar acima da vida inauspiciosa decorrente do grosseiro gozo material. A pessoa inteligente, hábil em perceber o mundo ao redor de si e em aplicar lógica sadia, pode lograr verdadeiro benefício através de sua própria inteligência. Dessa forma, às vezes, a pessoa age como seu próprio mestre espiritual instrutor. Na forma de vida humana, aqueles que são autocontrolados e peritos na ciência espiritual de sankhya podem ver-Me diretamente, junto com todas as Minhas potências. Neste mundo, há muitas classes de corpos criados — alguns com uma perna, outros com duas, três, quatro ou mais pernas, e ainda outros sem pernas — mas de todos esses, a forma humana é realmente querida para Mim. Embora Eu, o Senhor Supremo, jamais possa ser capturado pela percepção sensorial ordinária, aqueles que se encontram na forma humana podem usar sua inteligência e outras faculdades de percep­ção para Me buscarem diretamente através dos sintomas tanto apa­rentes quanto os verificados indiretamente. A este respeito, os sábios relatam uma narração histórica sobre a conversa entre o poderosíssimo rei Yadu e um avadhuta. Maharaja Yadu certa vez observou um brahmana avadhuta, que parecia muito jovem e culto, vagando destemidamente. Sendo muito versado na ciência espiritual, o rei aproveitou a oportunidade e dirigiu-lhe as seguintes palavras.



Sri Yadu disse: “Ó brahmana, vejo que não te ocupas em nenhuma atividade religiosa prática, não obstante adquiriste uma compreen­são muito profunda acerca de todas as coisas e de todas as pessoas dentro deste mundo. Dize-me, por favor, como desenvolveste essa inteligência extraordinária, e por que viajas ao léu pelo mundo intei­ro comportando-te tal qual uma criança. Os seres humanos em geral trabalham arduamente para culti­var religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e também conhecimento acerca da alma, e sua motivação costumeira vem a ser o aumento da duração de vida, a aquisição de fama e o desfrute de opulência material. Tu, porém, embora capaz, culto, hábil, belo e muito eloquente, não te ocupas em fazer nada, nem desejas algo, senão que pareces estupefato e enlouquecido como se fosses uma criatura possuída por um fantasma. Embora todas as pessoas dentro do mundo material estejam ar­dendo no grande incêndio da floresta da luxúria e da cobiça, tu per­maneces livre e não te queimas com este fogo. És como um elefante que se abriga do incêndio na floresta ficando dentro da água do rio Ganges. Ó brahmana, vemos que estás desprovido de todo contato com o desfrute material e que estás viajando só, sem companheiros nem membros familiares. Portanto, porque estamos indagando sinceramente de ti, por favor, dize-nos a causa do grande êxtase que estás sentindo em teu íntimo”.
O inteligente rei Yadu, sempre respeitoso para com os brahmanas, esperou, com a cabeça curvada, enquanto o brahmana, satisfeito com a atitude do rei, passou a res­ponder.
O brahmana disse: “Meu querido rei, com minha inteligência refu­giei-me em muitos mestres espirituais. Tendo obtido deles a compre­ensão transcendental, agora perambulo pela Terra numa condição liberta. Por favor, ouve enquanto os descrevo a ti. Ó rei, refugiei-me em vinte e quatro gurus, que são os seguintes: a Terra, o vento, o céu, a água, o fogo, a Lua, o Sol, o pombo e o píton; o oceano, a mariposa, a abelha, o elefante e o ladrão de mel; o veado, o peixe, a prostituta Pingala, o falcão e a criança; e a moça, o fabricante de flechas, a serpente, a aranha e a vespa. Meu querido rei, estudando suas atividades aprendi a ciência do eu. Por favor, ouve, ó filho de Maharaja Yayati, ó tigre entre os homens, enquanto te explico o que aprendi de cada um desses gurus”.
A Terra, o Vento e o Céu
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)01
“Uma pessoa sóbria, mesmo quando incomodada por outros seres vivos, deve compreender que seus agressores estão agindo inevitavel­mente sob o controle de Deus, logo ela nunca deve se desviar do progresso em seu próprio caminho. Esta regra eu aprendi da Terra. A pessoa santa deve aprender da montanha a devotar todos os seus esforços a serviço dos outros e a fazer do bem-estar alheio a única razão de sua existência. Da mesma forma, como discípulo da árvore, deve aprender a dedicar-se aos outros. O sábio erudito deve obter satisfação da simples manutenção de sua existência e não deve procurar satisfação através do prazer dos sentidos materiais. Em outras palavras, a pessoa deve cuidar do corpo material de modo tal que seu conhecimento superior não se destrua e que sua fala e sua mente não se desviem da autorrealização”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)02
“Mesmo um transcendentalista está rodeado de inúmeros objetos materiais, que possuem boas e más qualidades. Porém, aquele que transcendeu o bem e o mal materiais não deve enredar-se, mesmo ao estar em contato com os objetos materiais; deve, antes, agir como o vento. Embora possa viver neste mundo em diversos corpos materiais, experimentando suas várias qualidades e funções, a alma autorreali­zada nunca se enreda, assim como o vento que transporta diferentes aromas de fato não se mistura com eles”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)03
“Um sábio ponderado, mesmo enquanto vive dentro de um corpo material, deve se ver como alma espiritual pura. Da mesma maneira, deve-se observar que a alma espiritual entra dentro de todas as formas de vida, tanto móveis quanto inertes, e que as almas indivi­duais, portanto, são onipresentes. O sábio deve observar ainda que a Suprema Personalidade de Deus, como a Superalma, está si­multaneamente presente dentro de todas as coisas. A alma individual e a Superalma podem ser compreendidas se as compararmos à na­tureza do céu: Embora o céu se estenda por toda a parte e tudo re­pouse dentro do céu, este não se mistura com nada, nem pode ser dividido por algo. Embora o vento poderoso sopre nuvens e tempestades através do céu, este jamais se deixa envolver ou afetar por tais atividades. De forma semelhante, a alma espiritual não é alterada nem afetada me­diante o contato com a natureza material. Embora a entidade viva entre num corpo constituído de terra, água e fogo, e embora seja impelida pelos três modos da natureza criados pelo tempo eterno, sua natureza espiritual eterna jamais é afetada realmente”.
A Água e o Fogo
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)04
“Ó rei, a pessoa santa é tal qual a água, pois está livre de toda a contaminação, é gentil por natureza, e ao falar cria uma bela vibração como a da água fluente. Mediante o simples fato de ver, tocar ou ouvir semelhante pessoa santa, a entidade viva se purifica, assim como alguém fica limpo através do contato com a água pura. Logo, a pessoa santa, tal qual um lugar sagrado, purifica todos os que entram em contato com ela, pois sempre canta as glórias do Senhor”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)05
“As pessoas santas se tornam poderosas através da execução de austeridades. Sua consciência é inabalável porque não tentam desfru­tar de nada dentro do mundo material. Tais sábios naturalmente libertos aceitam alimentos que lhes são oferecidos pelo destino, e, se por acaso comem algum alimento contaminado, eles não são afetados, assim como o fogo, que queima as substâncias contaminadas que lhe são oferecidas. Uma pessoa santa, tal qual o fogo, algumas vezes aparece numa forma oculta e outras vezes, de forma patente. Para o bem-estar das almas condicionadas que desejam verdadeira felicidade, a pessoa santa pode aceitar a posição de mestre espiritual adorável e, assim como o fogo, ela reduz a cinzas todas as reações pecaminosas passa­das e futuras daqueles que a adoram, mediante a misericordiosa acei­tação de suas oferendas. Assim como o fogo se manifesta de diferentes maneiras em pedaços de lenha de diferentes tamanhos e qualidades, a onipotente Alma Suprema, tendo entrado nos corpos de formas de vida supe­riores e inferiores criados por Sua própria potência, parece assumir a identidade de cada uma delas”.
A Lua e o Sol
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)06
“Todas as diversas fases da vida material, a começar com o nascimento e culminando na morte, são propriedades do corpo e não afetam a alma, assim como o aparente crescimento e diminuição da Lua não afetam a Lua em si. Semelhantes mudanças são impos­tas pelos imperceptíveis movimentos do tempo. As chamas do fogo aparecem e desaparecem a cada momento, ainda assim o observador ordinário não percebe esta criação e destruição. De modo semelhante, as poderosas ondas do tempo fluem sem cessar, tais quais as poderosas torrentes de um rio, e impercep­tivelmente causam o nascimento, crescimento e morte de inúmeros corpos materiais. A alma, contudo, que é assim sempre forçada a mudar sua posição, não consegue perceber as ações do tempo”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)07
“Assim como o Sol evapora grandes quantidades de água median­te seus raios potentes e depois devolve a água à Terra sob a forma de chuva, a pessoa santa aceita todas as classes de objetos materiais com seus sentidos materiais e, no momento oportuno, quando alguém adequado se aproxima dela para pedi-los, devolve semelhantes objetos materiais. Logo, tanto ao aceitar quanto ao abandonar os objetos dos sentidos, ela não se enreda. Mesmo quando se reflete em diversos objetos, o Sol jamais se divide, nem se funde em seu reflexo. Só pessoas com cérebros obtusos é que fariam considerações dessa espécie a respeito do Sol. Da mesma forma, embora se reflita através de diferentes corpos materiais, a alma permanece indivisa e imaterial”.
O Pombo Tolo
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)08
“Ninguém jamais deve se entregar a afeição ou preocupação exces­sivas por alguém ou algo”, continuou o avadhuta, “pois, caso o faça, a pessoa terá de experi­mentar enorme sofrimento, assim como o pombo tolo. Era uma vez um pombo que morava na floresta com sua esposa. Ele fez um ninho numa árvore e morou lá por vários anos com sua companheira. Os dois pombos eram muito devotados a seus deveres familiares. Seus corações estavam amarrados pela afeição sentimental, e eles tinham atração pelos olhares, aspectos corpóreos e estados de espí­rito um do outro. Dessa maneira, eles se ataram um ao outro pela afeição. Ingenuamente confiando no futuro, eles, tal qual um casal amoroso entre as árvores da floresta, executavam seus atos de descansar, sentar-se, andar, ficar de pé, conversar, brincar, comer e assim por diante. Sempre que desejava alguma coisa, ó rei, a pomba lisonjeiramente seduzia seu marido e ele por sua vez a satisfazia com muita fideli­dade fazendo tudo o que ela queria, mesmo à custa de grande difi­culdade pessoal”.
“Desse modo, ele não podia controlar os sentidos na sua companhia. Então, a pomba ficou grávida pela primeira vez. Ao chegar a oca­sião, a casta senhora, na presença de seu marido, botou alguns ovos dentro do ninho. Ao chegar a hora, filhotes de pombo, com tenros membros e penas criados pelas inconcebíveis potências do Senhor, nasceram daqueles ovos. O casal de pombos ficou muito afeiçoado a seus filhotes e sentia enorme prazer ao ouvir-lhes o pio desajeitado, que soava muito agra­dável aos pais. Dessa forma, com amor passaram a criar as avezi­nhas que tinham nascido deles. Os pais ficavam muito jubilosos observando as asas suaves de seus filhotes, seus pipilos, seus graciosos movimentos inocentes ao redor do ninho e suas tentativas de pular para cima e voar. Vendo os filhos felizes, os pais também ficavam felizes. Com seus corações atados um ao outro pela afeição, os tolos pás­saros, completamente confundidos pela energia ilusória do Senhor Vishnu, continuaram a cuidar de sua jovem prole que nascera deles”.
“Certa vez, os dois cabeças da família saíram para buscar alimento para os filhos. Estando muito ansiosos por alimentar bem sua prole, vaguearam muito tempo por toda a floresta. Neste momento, aconteceu que um certo caçador estava vagando pela floresta e viu os pombinhos se movendo perto do ninho. Abrindo a rede, ele capturou todos. O pombo e sua esposa estavam sempre ansiosos pela manutenção de seus filhos e estavam vagando pela floresta com este propósito. Tendo obtido alimento apropriado, eles então voltaram ao ninho”.
“Ao ver os próprios filhos presos na rede do caçador, a senhora pomba ficou dominada pela angústia e, gritando, correu em direção a eles enquanto estes gritavam para ela em resposta. A senhora pomba sempre se permitira atar pelas cordas da intensa afeição material, e assim sua mente ficou dominada pela angústia. Estando nas garras da energia ilusória do Senhor, ela se esqueceu completamente de si e, correndo para seus desamparados filhos, ficou imediatamente presa na rede do caçador. Vendo seus filhos, que lhe eram mais queridos que a própria vida, fatalmente presos na rede do caçador com sua esposa, que ele con­siderava igual a si mesmo em todo os aspectos, o desafortunado pombo começou a lamentar-se desditosamente”.
“O pombo disse: ‘Ai de mim, vede só como agora estou destruído. Sou decerto um grande tolo, pois não executei convenientemente as atividades piedosas, não pude me satisfazer, nem pude cumprir o proposito da vida. Minha querida família, que era a base de minha religiosidade, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos, está agora arruinada e sem nenhuma esperança. Minha esposa e eu éramos um casal ideal. Ela sempre me obedecia fielmente e de fato me aceitava como sua deidade adorável. Agora, vendo seus filhos condenados e seu lar vazio, ela me deixou para trás e foi para o céu com nossos santos filhos. Agora, sou uma pessoa desgraçada, vivendo em um lar vazio. Minha esposa está morta; meus filhos estão mortos. Por que devo querer viver? Meu coração está tão aflito em consequência da separação de minha família que a própria vida se tornou simplesmente um so­frimento’”.
“O pombo viu seus desventurados filhos presos na rede e à beira da morte. Vendo-os lutar pateticamente para se libertar, sua mente ficou vazia, e assim, enquanto olhava desditosamente para eles, ele próprio caiu na rede do caçador. O caçador cruel, tendo satisfeito seu desejo de capturar o pombo, a pomba e todos os seus filhotes, partiu para a casa. Desse modo, quem é muito apegado à vida familiar fica com o coração perturbado. Tal qual o pombo, ele tenta encontrar prazer na atração sexual mundana. Muito ocupado em manter sua própria família, a pessoa avarenta está destinada a sofrer extremamente, junto com todos os membros de sua família. As portas da libertação estão inteiramente abertas para quem alcançou a vida humana. Porém, se um ser humano apenas se dedica à vida familiar tal qual o tolo pássaro dessa história, ele deve então ser considerado como alguém que subiu a um lugar alto só para tropeçar e cair”.
O Píton e o Oceano
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)09
O santo brahmana disse: “Ó rei, a entidade viva corporificada au­tomaticamente experimenta infelicidade no céu ou no inferno. Da mesma forma, a felicidade também será experimentada mesmo sem ser procurada. Portanto, a pessoa de discriminação inteligente não faz esforço algum para obter felicidade material. Seguindo o exemplo do píton, deve-se renunciar aos esforços ma­teriais e aceitar para a manutenção o alimento que vem esponta­neamente, seja este alimento delicioso ou insípido, abundante ou escasso. Se em alguma ocasião o alimento não vem, a pessoa santa deve, então, jejuar por muitos dias sem fazer esforço algum para mudar essa situação. Ela deve compreender que tem de jejuar devido ao arranjo de Deus. Logo, seguindo o exemplo do píton, deve perma­necer tranquila e paciente. A pessoa santa deve permanecer tranquila e materialmente ina­tiva, mantendo o corpo sem muito esforço. Embora possua pleno vigor sensual, mental e físico, ela não deve se tornar ativa para lograr ganho material; ao contrário, deve ficar sempre alerta para seu ver­dadeiro interesse pessoal”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)10
“Um sábio santo é feliz e agradável em seu comportamento exter­no, enquanto, internamente, é muito grave e pensativo. Porque seu conhecimento é imensurável e ilimitado, ele jamais se perturba; desse modo, em todos os aspectos, ele é como as águas tranquilas do in­sondável e insuperável oceano. Durante a estação das chuvas, os rios caudalosos arrojam-se para o oceano, e, durante a estiagem do verão, os rios, então rasos, redu­zem severamente seu suprimento de água. O oceano, todavia, não se avoluma durante a época das chuvas, nem se resseca no cálido verão. Da mesma maneira, um devoto santo, que aceitou a Supre­ma Personalidade de Deus como a meta de sua vida, algumas vezes receberá da providência grande opulência material, e outras, se en­contrará materialmente pobre. Porém, semelhante devoto do Senhor não se rejubila na condição de prosperidade, nem fica aborrecido quando a pobreza o atinge”.
A Mariposa e a Abelha
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)11
“Quem não conseguiu controlar os sentidos, de imediato sente atra­ção ao ver uma forma feminina, que é criada pela energia ilusória do Senhor Supremo. De fato, quando a mulher fala com palavras tentadoras, sorri provocantemente e se movimenta com sensualida­de, sua mente logo é capturada, e assim ele cai como um cego nas trevas da existência material, tal qual a mariposa enlouquecida pelo fogo precipita-se às cegas para suas chamas. Um tolo sem discriminação inteligente logo fica excitado ao ver uma mulher luxuriosa belamente adornada com enfeites de ouro, roupas finas e cosméticos. Ávido por gozo dos sentidos, este tolo perde toda a inteligência e é destruído tal qual a mariposa que se lança ao fogo ardente”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)12
“A pessoa santa deve aceitar apenas o alimento suficiente para manter o corpo e a alma juntos. Deve ir de porta em porta aceitando apenas um pouco de alimento de cada família. Dessa maneira, deve pra­ticar a ocupação da abelha. Assim como a abelha tira néctar de todas as flores, pequenas e grandes, um ser humano inteligente deve aceitar a essência de todas as escrituras religiosas. Uma pessoa santa não deve pensar: ‘Este alimento guardarei para comer à noite e este outro posso guardar para amanhã’. Em outras palavras, ela não deve guardar alimentos recebidos como es­mola. Ao contrário, deve usar as mãos como prato e comer tudo o que nelas couber. Seu único recipiente de armazenamento deve ser o estômago, e tudo o que couber comodamente nele deve ser seu estoque de comida. Logo, não se deve imitar a abelha gananciosa que recolhe com avidez mais e mais mel. O mendicante santo nem mesmo deve esmolar alimentos para comer mais tarde no mesmo dia ou no dia seguinte. Se ele despre­zar este preceito e, tal qual a abelha, esmolar mais e mais alimentos saborosos, semelhantes donativos de fato o arruinarão”.
O Elefante e o Ladrão de Mel
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)13
“Uma pessoa santa jamais deve tocar uma moça. De fato, ele não deve nem deixar que seu pé toque uma boneca de madeira com forma de mulher. Mediante o contato corpóreo com uma mulher, ele com certeza será capturado pela ilusão, assim como o elefante é capturado pela fêmea devido ao desejo de tocar seu corpo. Um homem que possui discriminação inteligente não deve, em nenhuma circunstância, tentar explorar a bela forma de uma mulher para seu gozo dos sentidos. Assim como o elefante que tenta desfru­tar uma fêmea é morto por outros elefantes que também desfrutam sua companhia, quem tenta desfrutar a companhia de uma mulher pode ser morto a qualquer momento por seus outros amantes que são mais fortes do que ele”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)14
“A pessoa gananciosa acumula enorme quantidade de dinheiro à custa de grande luta e dor, mas quem tanto lutou para adquirir esta riqueza nem sempre tem permissão de desfrutá-la pessoalmente ou dá-Ia em caridade aos outros. O homem ganancioso é como a abe­lha que luta para produzir enorme quantidade de mel, que então é roubado por um homem que o desfrutará para si mesmo ou o ven­derá a outros. Não importa com quanto cuidado alguém esconda sua riqueza ganha a duras penas ou quanto tente protegê-la: existem aqueles que são peritos em descobrir o paradeiro de coisas valiosas e vão roubá-las. Assim como um caçador leva embora o mel laboriosamente pro­duzido pelas abelhas, da mesma maneira, mendicantes santos, tais como brahmacharis e sannyasis, têm direito de desfrutar a proprie­dade acumulada com esforço pelos pais de família dedicados ao de­leite familiar”.
O Veado e o Peixe
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)15
“Uma pessoa santa que mora na floresta e se encontra na ordem de vida renunciada jamais deve ouvir canções ou música que pro­movam o desfrute material, senão que deve estudar cuidadosamen­te o exemplo do veado que fica desnorteado com a doce música da corneta do caçador e assim é capturado e morto. Deixando-se atrair por canções, dança e entretenimento musical mundanos de belas mulheres, mesmo o grande sábio Rishyashringa, filho de Mrigi, caiu como um tolo sob o controle delas, tal qual um animal de estimação”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)16
“Assim como um peixe, incitado pelo desejo de satisfazer a língua, é fatalmente preso no anzol do pescador, a pessoa tola se deixa confundir pelas extremamente perturbadoras necessidades da língua e assim é arruinada. Mediante o jejum, homens eruditos rapidamente controlam todos os sentidos, exceto a língua, porque, através do fato de abster-se de alimentos, esses homens são afligidos pelo desejo ainda maior de sa­tisfazer o paladar. Embora alguém possa dominar todos os outros sentidos, enquan­to a língua não for dominada, não se pode dizer que ele controlou os sentidos. Porém, se alguém é capaz de controlar a língua, então entende-se que ele tem pleno controle sobre todos os sentidos”.
A Prostituta Pingala
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)17
“Ó filho de reis, outrora, na cidade de Videha, morava uma pros­tituta chamada Pingala. Agora, por favor, ouve o que aprendi da­quela senhora. Certa vez, aquela prostituta, com o desejo de levar um amante para a sua casa, ficou à noite postada à porta mostrando sua bela forma. Ó melhor dentre os homens, essa prostituta estava muito ansiosa para ganhar dinheiro e, enquanto ficava de pé à noite na rua, exa­minava todos os homens que passavam, pensando: ‘Oh! Este na certa tem dinheiro. Sei que pode pagar o preço e tenho certeza de que apreciaria muito minha companhia’. Assim ela pensava acerca de todos os homens na rua. Enquanto a prostituta Pingala permanecia à porta, muitos homens vieram e se foram, passando junto à sua casa. Seu único meio de vida era sua casa de prostituição, e, por isso, ela, cheia de ansiedade, pensava: ‘Talvez este que vem vindo agora seja muito rico… Oh! Ele não vai parar, mas tenho certeza de que algum outro virá. Sem dúvida este homem que vem agora vai querer pagar por meu amor e provavelmente me dará muito dinheiro’. Desse modo, com esperan­ça vã, ela permaneceu encostada à porta, sem poder terminar seu negócio e ir dormir. Em virtude da ansiedade, ela às vezes caminha­va até a rua e às vezes entrava em casa. Assim, aos poucos chegou a meia-noite”.
“À medida em que a noite passava, a prostituta, que tanto desejava dinheiro, aos poucos ficou taciturna, e seu rosto murchou. Desse modo, cheia de ansiedade por obter dinheiro e muito desapontada, começou a sentir grande desapego de sua situação, e a felicidade surgiu em sua mente. A prostituta sentiu nojo de sua situação material e assim se tornou indiferente a ela. De fato, o desapego age como uma espada, cor­tando em pedaços a aprisionante rede das esperanças e desejos ma­teriais. Agora, ouve de mim, por favor, a canção que a prostituta cantou naquela situação. Ó rei, assim como um ser humano destituído de conhecimento espiritual jamais deseja abandonar seu falso sentido de propriedade sobre muitas coisas materiais, do mesmo modo, quem não desenvol­veu o desapego jamais deseja renunciar ao cativeiro do corpo mate­rial”.
“A protistuta Pingala disse: ‘Vede só quão iludida estou. Porque não sou capaz de controlar minha mente, tal qual uma tola desejo prazer luxurioso do homem mais insignificante. Sou tão tola que abandonei o serviço àquela pessoa que, estan­do eternamente situada em meu coração, é de fato muito querida para mim. Esse ente muito querido é o Senhor do Universo, que é o outorgador do amor e da felicidade verdadeiros e a fonte de toda a prosperidade. Embora Ele esteja em meu próprio coração, eu O ne­gligenciei por completo. Em vez disso, por ignorância, servi homens insignificantes que jamais puderam satisfazer meus verdadeiros de­sejos e que me trouxeram apenas infelicidade, temor, ansiedade, la­mentação e ilusão. Oh! Como torturei inutilmente minha própria alma! Vendi meu corpo a homens luxuriosos e cobiçosos que eram eles mesmos dignos de pena. Desse modo, praticando a mais abominável pro­fissão de prostituta, esperava obter dinheiro e prazer sexual. Este corpo material é como uma casa em que eu, a alma, estou vivendo. Os ossos que formam minha espinha, costelas, braços e pernas são como as vigas, as traves e os pilares da casa, e a estrutura com­pleta, que está cheia de fezes e urina, é coberta de pele, cabelo e unhas. As nove portas que conduzem a este corpo estão sempre ex­cretando substâncias asquerosas. Além de mim, que mulher poderia ser tão tola a ponto de se devotar a este corpo material, achando que poderia encontrar prazer e amor nesta máquina?’”.
“‘Decerto, nesta cidade de Videha, só eu sou completamente tola. Negligenciei a Suprema Personalidade de Deus, que nos outorga tudo, inclusive nossa forma espiritual original, e, em vez disso, dese­jei desfrutar o gozo dos sentidos com muitos homens. A Suprema Personalidade de Deus é absolutamente o mais querido para todos os seres vivos porque é o Senhor e benquerente de todos. Ele é a Alma Suprema situada no coração de todos. Por­tanto, agora pagarei o preço da rendição completa e, dessa manei­ra, comprando o Senhor, desfrutarei com Ele tal qual Lakshmidevi. Os homens fornecem gozo dos sentidos às mulheres, mas todos esses homens, inclusive os semideuses do céu, têm um começo e um fim. Eles todos são criações temporárias que serão arrastados pelo tempo. Portanto, quanto prazer ou felicidade verdadeira pode qualquer um deles dar a suas esposas?’”.
“‘Embora eu esperasse muito obstinadamente desfrutar o mundo ma­terial, de uma maneira ou outra o desapego surgiu em meu coração, e está me deixando muito feliz. Portanto, a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, deve estar contente comigo. Sem nem mesmo sabê­-lo, devo ter executado alguma atividade que O satisfez. Alguém que desenvolveu o desapego pode abandonar o cativeiro decorrente de sociedade, amizade e amor materiais, e quem passa por grande sofrimento se torna pouco a pouco, devido à desesperança, desapegado e indiferente ao mundo material. Logo, em virtude de meu grande sofrimento, este desapego despertou em meu coração; como poderia eu, todavia, ter passado por tão misericordioso so­frimento se fosse de fato desafortunada? Portanto, sou, na verdade, afortunada e recebi a misericórdia do Senhor. Ele, de um modo ou de outro, deve estar satisfeito comigo. Com devoção, aceito o grande benefício que o Senhor me prestou. Tendo abandonado meus desejos pecaminosos de gozo dos senti­dos, agora me refugio nEle, a Suprema Personalidade de Deus’”.
“‘Agora estou completamente satisfeita e tenho plena fé na mise­ricórdia do Senhor. Portanto, vou me manter com qualquer coisa que venha por sua própria conta. Desfrutarei a vida apenas com o Senhor, porque Ele é a verdadeira fonte de amor e felicidade. As atividades referentes ao gozo dos sentidos rouba a inteligên­cia da entidade viva, e por isso esta cai no poço escuro da existência material. Dentro desse poço, ela é então agarrada pela serpente fatal do tempo. Quem, senão a Suprema Personalidade de Deus, poderia salvar a pobre entidade viva de tão desesperada condição? Ao ver que o Universo inteiro foi capturado pela serpente do tempo, a entidade viva se torna sóbria e sã e, nesse momento, desa­pega-se de todo o gozo dos sentidos materiais. Nesta condição, a entidade viva está qualificada para ser seu próprio protetor’”.
O avadhuta disse: “Dessa maneira, completamente decidida, Pin­gala cortou todos os seus desejos pecaminosos de desfrutar de prazer sexual com amantes e situou-se em perfeita paz. Ela, então, sentou­-se em sua cama. O desejo material é, sem dúvida, a causa da mais profunda infeli­cidade, e estar livre de semelhante desejo é a causa da maior felici­dade. Por isso, cortando de uma vez por todas seu desejo de desfrutar com supostos amantes, Pingala foi dormir muito feliz”.
O Falcão e a Criança
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)18
O brahmana santo disse: “Todos consideram determinadas coisas no mundo material como muito queridas para si e, devido ao apego a esses objetos, eles por fim se tornam infelizes. Quem compreende isto, renuncia à posse e ao apego materiais e, destarte, aufere felicidade ilimitada. Certa vez, um bando de falcões enormes que não conseguia achar nenhuma presa atacou outro falcão mais fraco que tinha alguma carne. Naquele momento, estando em perigo de vida, o falcão aban­donou a carne e experimentou verdadeira felicidade”.
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)19
“Na vida familiar, os pais estão sempre em ansiedade devido a seu lar, filhos e reputação. Mas nada tenho a ver com estas coisas. Não me preocupo em absoluto com família, nem me interesso por honra ou desonra. Desfruto apenas a vida da alma e encontro o amor na plataforma espiritual. Dessa maneira, vagueio pela terra como uma criança. Neste mundo, duas classes de pessoas estão livres de toda a ansie­dade e imersos em grande satisfação: aquele que é um tolo retardado e infantil e aquele que se aproximou do Senhor Supremo, que se en­contra além dos três modos da natureza material”.
A Moça e o Fabricante de Flechas
13 I (história - Srimad-Bhagavatam) Os Vinte e Quatro Gurus do Avadhuta (6300)20
“Certa vez, uma moça em idade de casar estava a sós em casa, porque àquele dia seus pais e parentes tinham ido a outro lugar. Nessa ocasião, chegaram alguns homens à sua casa, desejando espe­cificamente desposá-la. Ela os recebeu com toda a hospitalidade. A moça foi a um lugar reservado e começou a preparar algo que seus hóspedes inesperados pudessem comer. Ao bater o arroz, os braceletes de conchas em seus braços se chocavam e produziam enor­me ruído. A moça temia que os homens considerassem sua família pobre porque ela estava ocupada na tarefa servil de debulhar o arroz. Sendo muito inteligente, a moça tímida quebrou os braceletes de conchas, deixando apenas dois em cada pulso. Em seguida, porque a moça prosseguia a debulhar o arroz, os dois braceletes em cada pulso continuavam a se chocar e a produzir ruído, em virtude do que ela tirou um bracelete de cada braço, e, com apenas um em cada pulso, não havia mais barulho. Ó subjugador do inimigo, viajo por toda a superfície da Terra aprendendo constantemente sobre a natureza deste mundo e dessa maneira eu mesmo testemunhei esse caso e aprendi daquela moça uma lição. Quando muitas pessoas vivem juntas no mesmo lugar, indubita­velmente haverá desavenças ali. E mesmo que apenas duas pessoas vivam juntas, haverá conversas frívolas e desacordos. Portanto, para evitar conflitos, deve-se viver só, tal qual aprendemos do exemplo do bracelete da moça. Depois de aperfeiçoar as posturas sentadas de yoga e dominar o processo respiratório, deve-se estabilizar a mente através do desape­go e da prática regulada de yoga. Desse modo, com muita atenção, deve-se fixar a mente na meta única da prática de yoga.
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“A mente pode ser controlada quando ela se fixa na Suprema Per­sonalidade de Deus. Após alcançar uma situação estável, a mente se liberta do desejo contaminado de executar atividades materiais. Assim, à medida que o modo da bondade se fortalece, pode-se aban­donar de vez os modos da paixão e da ignorância, e, aos poucos, transcende-se até o modo material da bondade. Quando a mente se livra do combustível dos modos da natureza, extingue-se o fogo da existência material. Então, a pessoa alcança a plataforma trans­cendental da relação direta com o objeto de sua meditação, o Senhor Supremo. Dessa maneira, quando a consciência está completamente fixa na Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, a pessoa não vê mais dualidade nem realidade interna e externa. Dá-se o exemplo do fabricante de flechas que estava tão absorto em fazer uma flecha aprumada que nem mesmo notou a presença do próprio rei, que estava passando bem a seu lado”.
A Serpente, a Aranha e a Vespa
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“A pessoa santa deve permanecer só e viajar constantemente sem residência fixa. Sendo vigilante, deve permanecer isolada e deve agir de modo que não seja reconhecida nem notada pelos outros. Andando sem companheiros, ela não deve falar mais que o neces­sário. Quando alguém, vivendo num corpo material temporário, tenta construir um lar feliz, o resultado é infrutífero e miserável. A ser­pente, no entanto, entra num lar construído por outros e leva uma vida próspera e feliz”.
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“O Senhor do Universo, Narayana, é o Deus adorável de todas as entidades vivas. Sem assistência alheia, o Senhor cria este Univer­so mediante Sua própria potência e, na ocasião do aniquilamento, destrói o Universo através de Sua expansão pessoal sob a forma do tempo e recolhe todo o cosmos, incluindo todas as entidades vivas condicionadas, dentro de Si mesmo. Logo, Seu Eu ilimitado é o refúgio e reservatório de todas as potências. O sutil pradhana, o alicerce de toda a manifestação cósmica, é conservado dentro do Senhor e, desse modo, não é diferente dEle. Depois do aniquilamen­to, o Senhor permanece só. Ao exibir Sua própria potência sob a forma do tempo e guiar Suas potências materiais, tais como o modo da bondade, para uma condição neutra de equilíbrio, a Suprema Personalidade de Deus permanece o controlador supremo daquele estado neutro, chamado pradhana, bem como das entidades vivas. Ele é também o supre­mo objeto de adoração para todos os seres, incluindo as almas libe­rtas, os semideuses e as almas condicionadas ordinárias. O Senhor está eternamente livre de qualquer designação material e constitui a totalidade da bem-aventurança espiritual proveniente da percepção de Sua própria forma espiritual. O Senhor, desse modo, exibe o sig­nificado mais completo da palavra ‘libertação’. Ó subjugador dos inimigos, no momento da criação, a Persona­lidade de Deus expande Sua própria potência transcendental sob a forma do tempo e, agitando Sua energia material, maya, que consis­te nos três modos da natureza material, cria o mahat-tattva. Segundo eminentes sábios, aquilo que é o alicerce dos três modos da natureza material e que manifesta o diversificado Universo chama-­se sutra ou mahat-tattva. De fato, este Universo repousa dentro da­quele mahat-tattva, e, devido a sua potência, a entidade viva tem de sujeitar-se à existência material. Assim como de dentro de si mesma a aranha expande o fio através de sua boca, brinca com ele por algum tempo e enfim o engole, da mesma maneira, a Suprema Personalidade de Deus expande Sua po­tência pessoal de dentro de Si mesmo. Desse modo, o Senhor exibe a rede da manifestação cósmica, utiliza-a conforme Seu propósito e afinal recolhe-a por completo para dentro de Si mesmo”.
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“Se por amor, ódio ou temor uma alma corporificada fixar sua mente com inteligência e completa concentração numa forma cor­pórea específica, ela com certeza obterá aquela forma sobre a qual está meditando. Ó rei, certa vez uma vespa forçou um inseto mais fraco a entrar em sua colmeia e o manteve preso lá. Com muito medo, o inseto mais fraco meditava constantemente em seu captor e, sem aban­donar o corpo, aos poucos alcançou o mesmo estado de existência da vespa. Desse modo, a pessoa alcança um estado de existência de acordo com sua concentração constante”.

O Corpo Humano e a Iluminação
“Ó rei, de todos estes mestres espirituais adquiri grande sabedo­ria. Agora ouve, por favor, enquanto explico o que aprendi de meu próprio corpo. O corpo material também é meu mestre espiritual porque me en­sina o desapego. Estando sujeito a criação e destruição, ele sempre chega a um fim doloroso. Desse modo, embora use meu corpo para adquirir conhecimento, sempre me lembro de que ele será afinal con­sumido por outros, e, permanecendo desapegado, vagueio por este mundo. Um homem apegado ao corpo acumula dinheiro com grande esfor­ço para expandir e proteger a posição de sua esposa, filhos, proprie­dade, animais domésticos, criados, lares, parentes, amigos e assim por diante. Ele faz tudo isso para o prazer do próprio corpo. Assim como a árvore antes de morrer produz a semente de uma futura ár­vore, o corpo moribundo manifesta a semente de seu próximo corpo material sob a forma de seu karma acumulado. Desse modo, assegu­rando a continuação da existência mundana, o corpo material cai e morre. Um homem que tem muitas esposas vive molestado por elas. Ele é responsável por mantê-las, logo todas as senhoras sempre o arrastam para diferentes direções, enquanto cada uma luta por seu interesse pessoal. De forma semelhante, os sentidos materiais afligem a alma condicionada, arrastando-a ao mesmo tempo para muitas direções. De um lado, a língua a arrasta para conseguir alimentos saborosos; então a sede a arrasta para conseguir uma bebida conve­niente. Ao mesmo tempo, os órgãos sexuais clamam por satisfação, e o tato demanda objetos macios e sensuais. O estômago aborrece a pessoa até estar farto, os ouvidos exigem ouvir sons agradáveis, o olfato deseja aromas deliciosos, e os olhos irrequietos clamam por visões encantadoras. Dessa maneira, os sentidos, órgãos e membros, todos desejando satisfação, arrastam a entidade viva para muitas direções”.
“A Suprema Personalidade de Deus, expandindo Sua própria po­tência, maya-shakti, criou inúmeras espécies de vida para alojar as almas condicionadas. Contudo, após ter criado as formas de árvo­res, répteis, animais, aves, serpentes, etc., o Senhor não estava satis­feito em Seu coração. Ele, então, criou a vida humana, que oferece à alma condicionada inteligência suficiente para perceber a Verdade Absoluta, e ficou satisfeito. Após muitos e muitos nascimentos e mortes obtém-se a rara forma de vida humana que, embora temporária proporciona à entidade viva a oportunidade de atingir a perfeição máxima. Por isso, um ser humano sóbrio de imediato deve esforçar-se pela perfeição últi­ma da vida e não cair no ciclo de repetidos nascimentos e mortes. Afinal, o gozo dos sentidos é disponível mesmo nas mais abominá­veis espécies de vida, ao passo que a consciência de Krishna só é pos­sível para um ser humano”.
“Tendo aprendido esses ensinamentos de meus mestres espirituais, permaneço situado na compreensão acerca da Suprema Personali­dade de Deus e, plenamente renunciado e iluminado pelo conheci­mento espiritual vivenciado, vagueio pela terra sem apego nem falso ego. Embora a Verdade Absoluta seja única e inigualável, os sábios A descreveram de muitas maneiras diferentes. Portanto, a pessoa talvez não seja capaz de adquirir conhecimento muito firme ou completo de um só mestre espiritual”.
Tendo assim falado ao rei Yadu, o sábio brahmana aceitou reverências e adoração do rei e sentiu-se interiormente satisfeito. Então, dizendo adeus, partiu tal qual tinha vindo. Ó Uddhava, ouvindo as palavras do avadhuta, o santo rei Yadu, livrou-se de todo o apego material, motivo pelo qual sua mente atingiu o equilíbrio na plata­forma espiritual.