Vulcão Dourado de Amor Divino - Mais Humilde que uma folha de grama


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Mais Humilde
do que uma Folha
de Grama

trnad api sunicena
taror api sahisnuna
amanina manadena
kirtaniyah sada harih
Tradução
"Aquele que é mais humilde
do que uma folha de grama,
mais paciente do que uma árvore,
que honra devidamente os outros
sem desejar tal honra para si,
é qualificado para cantar sempre
o santo nome de Krishna".
Iluminação
Deveríamos nos estabelecer principalmente no seguinte humor: de nos considerarmos como o pior dos piores. Srila Bhaktivinoda Thakur deu sua análise sobre o significado desse verso como se segue: até uma folha de grama tem seu valor, mas nós não temos nem mesmo o valor de uma folha de grama. Não temos valor positivo. Uma coisa é o homem não ser educado, mas um louco é pior do que um mal educado. Ele pode pensar - mas só anormalmente. Por isso, Srila Bhaktivinoda Thakur diz: "Tenho alguma consciência, alguma inteligência, mas estão mal orientadas. Uma folha de grama não sofre de má orientação. Quando é pisada, não tende a se mover em direção oposta. A folha de grama pode ser soprada de cá para lá por uma tempestade, ou pelo ambiente externo, enquanto eu sempre reluto em ir numa direção em particular. Se as ondas do meio ambiente tentam me levar numa certa direção, eu tento me opor. Se realmente considerar meu verdadeiro valor, concluirá que minha posição é inferior à de uma folha de grama, porque tendo a me opor".
Quando desejamos nos conduzir a uma relação mais íntima com a bondade infinita, devemos pensar que: "Não tenho valor. Ou melhor, meu valor é negativo. Minha tendência é de oposição à graça do Senhor. Se Krishna tenta me agraciar, tento resistir. Sou constituído de tal elemento que cometo suicídio espiritual. Krishna vem me agraciar, mas eu me oponho: a energia que há dentro de mim tenta o suicídio. Essa é minha situação, mas a folha de grama não se opõe a ninguém. Minha situação é assim tão sórdida". Devemos vivenciar estarmos nesse predicamento. Podemos aceitar a bondade da Verdade Absoluta na forma de Seu santo nome com esse cuidado.
Não devemos achar que o caminho será tranqüilo; podem vir muitos problemas externos. Quando os devotos vão cantar Hare Krishna nas ruas, muitas pessoas gritam: "Ei, seus macacos! Macacos cara-vermelha"! Virão muitas formas de impedimentos e oposição que tentarão nos afetar e nos dissuadir desse caminho, mas temos que praticar tolerância como a de uma árvore. Por que a árvore foi citada como exemplo? Analisou-se assim: se ninguém regar a árvore, ela não protesta - "Oh! Dê-me água"! Se alguém vem perturbar a árvore, arranca suas folhas, corta seus galhos, ou até mesmo a põe abaixo com machadadas, ela permanece silenciosa; não faz nenhuma oposição. Devemos ver que o insulto, a pobreza, a punição, ou outras ações desfavoráveis são necessárias para nos purificar, e seremos liberados da existência material com um pouquinho de punição.
Através da consciência de Krishna, conectamo-nos ao objeto supremo da vida, a maior satisfação da vida - quanto estamos prontos a pagar por isso? É inconcebível. Devemos aceitar com um sorriso qualquer pequena demanda que nos for exigida, ao considerar o objetivo supremo. Se estamos realmente confiantes, se temos fé em nosso brilhante futuro, então devemos pagar alegremente.
"Krishna - Vou Lhe Dar uma Lição"!
Certa vez, Srila Gaurakishora Dasa Babaji Maharaja, mestre espiritual de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, mendigava um pouco de arroz pela cidade de Navadwip, em várias casas. Os habitantes das aldeias às vezes atacam ou insultam os devotos e nem mesmo poupavam uma alma tão elevada quando chegava a suas residências. Alguns garotos jogavam pedras e atiravam barro nele, quando ele pensou: "Krishna, é muito cruel comigo! Vou reclamar de Você para Sua mãe Yasoda". Esse era seu ponto de vista, e assim ele harmonizava tudo. Devemos aprender a ver Krishna em tudo que venha a nos perturbar ou atacar. Na avaliação filosófica é claro que nada pode acontecer sem o desejo de Deus. Mas, numa forma concreta, o devoto vê: "Oh, Krishna! Apóia essas crianças, para me perturbar, e vou Lhe dar uma lição. Sei como lidar com Você. Vou reclamar à Sua mãe Yasoda, e ela vai castigá-Lo".
Devotos avançados são fixos na consciência de que Krishna está por trás de tudo, e aceitam tudo dessa forma. Essa atitude é nosso farol de orientação, pois nos conduzirá a superar as coisas que são aparentemente desfavoráveis para nós. Encontramos um doce ajuste aqui, e assim, somos aconselhados a sermos mais tolerantes do que uma árvore. Podemos ficar sem fazer nenhuma oposição; ainda assim, a oposição virá nos perturbar. E temos de perdoar.
E temos de respeitar os outros. Prestígio é o maior e mais sutil inimigo de um devoto de Krishna. Orgulho é o pior inimigo de um devoto de Krishna. E orgulho nos leva finalmente à conclusão dos mayavadis, os monistas. Eles dizem: so 'ham - "Eu sou"! Não: daso 'ham, "Eu sou subordinado"! Mas dizem: "Eu sou o Elemento Supremo; eu sou Isso; eu sou Ele", assim eliminam de suas considerações o fato de que somos insignificantes e sofremos na miséria. Os mayavadis, impersonalistas, ignoram todas as coisas práticas, mas posição, ou ego (pratistha), é nosso pior inimigo. Somos aconselhados nesse verso a lidar com prestígio e posição numa forma especial.
A Área de Escravidão de Krishna
Sri Chaitanya Mahaprabhu diz: "Não deve desejar respeito de ninguém ou mesmo do próprio meio ambiente; ao mesmo tempo, deve prestigiar todos e tudo no meio ambiente conforme a posição. Respeite, mas sem desejar nenhum respeito externo". Devemos ser muito meticulosos a esse respeito, pois o orgulho é nosso inimigo oculto, nosso pior inimigo. Se de alguma forma pudermos evitar ou conquistar esse inimigo, estaremos aptos para entrar na área de escravidão de Krishna e nos juntarmos àqueles que entregam suas vidas completamente em sacrifício a Ele. O significado geral desse verso é: "Nunca procure posição ou prestígio de nenhuma parte. Ao mesmo tempo, honre todos e tudo conforme seu entendimento".
Um Grande Insulto
Quando nosso mestre espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, foi para Vrindavana no início dos anos 30, ele andava num automóvel. Até aquela época, nunca se viu tal coisa, em relação a um santo. Certo dia, um sacerdote insultou nosso guru, e censurou a posição de Srila Raghunatha Dasa Goswami, preceptor da nossa mais elevada concepção de alcance espiritual. Ele se vangloriou: "Não somos apenas residentes da terra sagrada, mas membros da casta de sacerdotes exaltados (brahmanas). Portanto, podemos oferecer nossas bênçãos a Dasa Goswami. Ele nasceu numa família de classe baixa, e ele próprio nos pediu tal bendição".
Dasa Goswami orou certa vez, com grande humildade:
gurau gosthe gosthalayisu sujana bhusuragane
svamantre sri-namni vraja-nava-yuva-dvandva-sarane
sada dambham hitva kuru ratim apurvam atitara
maye svantarbhratas catubhir abhiyace dhrta-padah
"Ó mente - minha irmã! Caio a seus pés e imploro: Abandone todo orgulho e sempre saboreie amor extático enquanto se lembra do guia divino, da morada sagrada de Vrindavana, dos pastores de vacas e leiteiras de Vraja, dos devotos amorosos do Senhor Supremo Sri Krishna, dos deuses na terra ou dos brahmanas, do Gayatri mantra, dos santos nomes de Sri Krishna, e do jovem casal divino de Vraja, Sri Sri Radha-Govindasundara".
O sacerdote observou: "Somos residentes da morada sagrada de Vrindavana, e brahmanas também, portanto, estamos em posição para dar benções a Raghunatha Dasa Goswami". Quando nosso guru maharaja, que estava em Radha-kunda na ocasião, ouviu essas palavras, começou a jejuar. Ele comentou: "Tenho de ouvir isso? Esse sujeito está sob o controle da luxúria, da ira e da cobiça, e diz que pode dar sua graça a Dasa Goswami, o preceptor mais respeitado em nossa linha! E tenho de ouvir isso"? Ele decidiu jejuar, sem retaliar seu comentário.
Nós também paramos de comer, e todo o acampamento começou a jejuar. Então, quando os cavalheiros locais souberam que todo o acampamento estava em jejum, procuraram pelo sacerdote blasfemador e o trouxeram perante nosso guru maharaja. O sacerdote implorou para ser perdoado. Nosso guru maharaja ficou satisfeito e quebrou o jejum, após mostrar-lhe algum respeito. Alguém disse a nosso guru maharaja na ocasião: "Eles são tolos ignorantes. Por que devemos ficar tão afetados com suas palavras? Devia ignorá-las". Nosso guru maharaja disse: "Se eu fosse um babaji comum e ouvisse tal comentário, poderia simplesmente tapar os ouvidos e ir embora. Mas atuo como acharya, aquele que ensina pelo próprio exemplo. Qual a justificativa para eu andar num automóvel, se não me oponho a tais comentários contra meu gurudeva"?
Ele costumava usar essa expressão muitas vezes: "Por que ando de automóvel aqui em Vrindavana"? Ele disse: "Se eu fosse um niskincana babaji, santo que vive em reclusão e veste apenas um pedaço de pano, não me oporia a esse homem. Simplesmente, deixaria o local e iria embora. Mas porque ando num grande automóvel na posição de acharya, professor, preciso defender a dignidade de grandes devotos. Aceitei essa missão e não posso evitar as circunstâncias. Tenho de enfrentar e fazer todo o possível para que tais coisas não continuem sem denúncia ou oposição".
A humildade deve ser ajustada ou modificada na aplicação prática. Certa vez, quando um templo Hare Krishna foi atacado, os devotos usaram uma arma para defender o templo. Mais tarde, houve reclamações das pessoas da região. Eles diziam: "Oh, eles são humildes? Eles são tolerantes? Por que não seguiram o conselho de Sri Chaitanya Mahaprabhu para serem mais humildes do que uma folha de grama e mais tolerantes do que uma árvore? Eles não podem ser devotos"! Chegavam muitas reclamações até mim, mas os defendi e disse: "Não, eles agiram corretamente. A instrução para ser mais humilde que a folha de grama quer dizer que se deve ser humilde com um devoto, não com um louco".
As pessoa comuns são ignorantes; são loucas. Não sabem o que é bom ou mau, portanto, suas considerações não têm valor. Quem é qualificado para julgar se um devoto respeita todos sem esperar respeito para si próprio? Quem vai julgar se ele á realmente humilde e tolerante? Loucos? Pessoas ignorantes? Será que eles têm algum bom senso para julgar quem é humilde, quem é tolerante, e quem é respeitoso com os outros? Deve haver um padrão para julgar a humildade. Interessa-nos o critério de pensadores elevados, e não a consideração das massas ignorantes.
Padrão de Humildade
Claro que qualquer um pode enganar o povo com humildade superficial. Só que "show" de humildade não é humildade verdadeira, que tem de provir do coração, e ter um propósito real. Tudo - humildade, tolerância e modéstia - deve ser considerado através do julgamento de uma pessoa padrão, normal, e não pelos ignorantes que são como elefantes, tigres, e chacais. Deveriam poder julgar o que é humildade, audácia e impertinência? Claro que não. Deveria um devoto pensar: "A Deidade no templo está para ser perturbada, mas devo ficar quieto e não fazer nada. Devo ser humilde e tolerante. Um cachorro entra no templo; preciso respeitá-lo"? Não. Isso não é verdadeira humildade.
Precisamos de uma concepção normal da realidade. Não podemos permitir a continuação dessas anomalias em nome de respeito aos outros. Não devemos pensar que podemos permitir que alguém prejudique os devotos ou perturbe o templo, e, desse modo, seremos humildes e tolerantes e respeitamos os outros. Não nos interessa apenas o significado físico das escrituras, mas o significado real.
Ser humilde significa que sou escravo do escravo de um Vaishnava. Devemos prosseguir com essa consciência. Se alguém vem perturbar meu mestre, devo me sacrificar primeiro, e pensar: "Meu sacrifício não será nenhuma perda, pois sou da menor importância; devo me sacrificar para manter a dignidade do meu guru, dos devotos e do meu Senhor e de Sua família".
Devemos sempre compreender o que é que deve ser honrado. Nós respeitamos a Verdade Suprema, o Senhor dos Senhores; nossas atitudes devem acontecer em harmonia com isso. Se mantivermos constantemente o conceito supremo de relatividade dentro de nós, veremos que somos os mais baixos. Devemos nos sacrificar, se nossos guardiões estiverem em perigo. Tudo isso deve ser levado em consideração quando se tenta entender o significado de humildade, não é imitação física - mas humildade genuína; é uma questão de realização prática. Fama e honra devem ser destinadas ao Senhor e Seus devotos, a mais ninguém.
Claro que nos estágios superiores a humildade tem de ser ajustada de outra forma para os paramahamsa-babajis, devotos mais elevados que são como cisnes e abandonaram toda conexão com este mundo material. Mas no estágio de pregação, o devoto de segunda classe deve aceitar as coisas diferentemente. Como nosso guru maharaja disse: "Se eu atuasse como babaji, santo recluso e pacífico, teria saído do local sem fazer nenhuma oposição. Mas quando estamos na pregação e assumimos a responsabilidade de conduzir tantas almas ao reino do Senhor, nosso ajuste deve ser de acordo". Geralmente, devemos ser indiferentes com os inamistosos, mas quando pregamos em nome do Senhor de forma organizada, nosso dever muda: não podemos ser indiferentes com antagonistas.
As escrituras mencionam, através de Jiva Goswami, que se devem considerar esses tópicos conforme o padrão de cada um em particular, antes de tomar as ações necessárias. Sua decisão é que se o devoto estiver numa posição de poder, se for um rei, e se alguém blasfemar um Vaishnava autêntico, ou santo, o rei deve aplicar punição corporal, com a extradição do ofensor ou por cortar a língua dele (vaishnava nindaka jihva hata). Isso não é dever para pessoas comuns, pois haverá distúrbio se agirem assim. Nunca devemos desejar infligir punição física a ninguém.
Hanuman é um Vaishnava, mas vimos que destruiu tantas vidas. O mesmo vale para Arjuna e tantos outros devotos. Até mesmo Krishna e Ramachandra mataram tantos demônios em batalhas. O verdadeiro significado de humildade não é meramente uma representação física de brandura. Sempre que houver um insulto ao guru ou aos Vaishnavas, o devoto vai se opor aos blasfemadores de acordo com seu poder.
Bhaktivinoda Thakura diz em uma de suas canções que não devemos apenas tolerar as más ações de outros e perturbações do meio ambiente, como também temos de fazer bem àqueles que nos torturam. O exemplo citado é a árvore. Mesmo quem corta a árvore obtém sombra e conforto dela enquanto a põe abaixo. Em conclusão, ele diz que humildade, misericórdia, respeito aos outros e renúncia a nome e fama são as quatro qualificações para cantar o santo nome de Krishna.
Somos o mais baixo dos inferiores. Devemos estar sempre conscientes de que somos mendigos. Devemos pensar que: "Embora eu seja um mendigo, vim mendigar a coisa suprema; que nenhuma perturbação me faça dissuadir dessa tentativa". Ao mesmo tempo, nossa atitude para com o meio ambiente deve ser de respeito.
Assim, ao se tornar educado na concepção Krishna de divindade, cada um deve ser respeitado conforme sua posição. A orientação na adoração ao santo nome (nama-bhajana) é que devemos adotar a posição de escravo do escravo de um escravo do Senhor. Se deseja cantar o santo nome de Krishna, então não perca sua energia com as frivolidades deste mundo. Não permita que sua atenção seja perturbada por aquisições insignificantes, como prestígio ou ganho relativo a dinheiro ou conforto físico. Lembre-se, está na tentativa pela maior coisa, e todas as outras coisas são muito pequenas em comparação à consciência de Krishna. Portanto, não perca sua energia e tempo valioso. Seja econômico. Tenha a chance de alcançar o objetivo supremo da vida.